segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Pós-triunvirato e as Europeias


O Pós Triunvirato:

Acabaram-se as desculpas. O triunvirato está de saída. O memorando está terminado.

As rendas garantidas da EDP e da REN já foram alienadas, para além do controlo sobre áreas chave da economia. A dispersão em bolsa dos CTT, talvez a menos danosa das privatizações, também faz o Estado perder receita no médio-longo prazo. A concessão da ANA por 75 anos é mais uma privatização de lucros obscena que se torna ainda mais pungente com a perda de controlo público sobre o transporte aéreo nacional. Só se privatizaram as empresas (mais) lucrativas. As demais continuam na prateleira e a TAP está ameaçada de ser a próxima. Vamos esperar que, a acontecer, se salvaguarde o essencial: manter o centro de operações em Lisboa e respetivo centro de manutenção e nunca vender aos espanhóis.

As empresas não são boas ou más por serem públicas ou privadas - são boas ou más dependendo da gestão que têm. Chega de alienar património sem destino e sem um objetivo que não o lucro de curto prazo. Seria possível pensar-se numa perspetiva de médio prazo, para variar?

A este propósito permito-me citar José Saramago:

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

As Eleições Europeias:

Discute-se tudo menos o que interessa. Elegemos apenas 21 deputados entre mais de 700 e estamos a discutir questões internas altamente superficiais em vez de discutirmos questões europeias. Era importante discutirmos os prós e os contras da União Europeia. Era importante discutirmos as virtudes e inconvenientes do Euro (cuja única voz discordante vem do prof. João Ferreira do Amaral). Era importante discutirmos com que legitimidade governos atrás de governos têm vendido a nossa soberania a Bruxelas que tantas vidas custou ao longo de tantos séculos. Ao invés, os partidos da maioria insistem em passar uma imagem de sucesso que de tão exagerada corre o risco de ser ridícula e a oposição com tempo de antena (PS, CDU e BE) insiste em questiúnculas como a reunião do BCE em Sintra (que irá começar depois de fecharem as urnas) ou a influência eleitoral de um Conselho de Ministros. Não há pachorra!

No Reino Unido, recentemente, Nick Clegg (vice-primeiro ministro e líder dos Liberais Democratas), o mais pró-europeu, desafiou Nigel Farage (eurodeputado e líder do partido Independentista), o mais euro-cético para um debate que valeu pela forma aberta e destemida com que teve lugar.

Cada vez mais parecemos acorrentados ao unanimismo bacoco e pouco esclarecido com que PS e PSD se foram constantemente assumindo europeus convictos. É de mim, ou encontramos aqui algumas semelhanças com uma das mais célebres frases do professor António de Oliveira Salazar:

«Não se discute Deus e a sua virtude, não se discute a Pátria e a Nação; não se discute a autoridade e o seu prestígio.»

Em Democracia tudo, rigorosamente, é discutível. Pode ser algo ótimo, mas tem que se discutir de forma aberta, séria e sem preconceitos.