segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Eu não sou Charlie!


Começo por dizer que os vários atos terroristas que ocorreram em França na passada semana foram algo de completamente inaceitável, intolerável, injustificável, imperdoável e bárbaro. Lamento profundamente todos os mortos, feridos e o sofrimento que sobreviventes, familiares e amigos levarão consigo para o resto das suas vidas. Devo ainda dizer que gostei muito de assistir à marcha de ontem nas ruas de Paris.

A propósito deste acontecimento, gostaria de vos deixar um par de reflexões:

Ontem a França uniu-se, a Europa uniu-se, o civilização ocidental uniu-se e as democracias uniram-se em torno desse grito silencioso de veemente condenação ao terrorismo, e de afirmação da união em torno dos valores da democracia e da liberdade de expressão. Afinal o ser humano é assim mesmo, une-se mais facilmente nas adversidades. Infelizmente, é mais fácil ter-se um inimigo comum que um amigo comum, mas vale sobretudo a pena pensar que, se por um lado a paz e a democracia não são dados adquiridos e temos que lutar por eles todos os dias, por outro,  é provavelmente ser muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa dos nossos concidadãos, ao contrário daquilo que possamos pensar quando nos deixamos levar pela chicana política do dia-a-dia.

Por outro lado, gostaria de dizer que «eu não sou Charlie». O pretenso jornalismo de Charlie Hedbo é para mim reprovável, e não é por muitos dos seus autores terem sido barbaramente assassinados que se deve deixar passar o assunto em claro. Como disse, e bem, Gustavo Santos nas redes sociais: «Opinar sim, questionar também, agora gozar sistematicamente com convicções alheias é que me parece despropositado». A liberdade tem limites, como a infâmia ou a calúnia. O desrespeito por símbolos associados a grande afetividade, como são os religiosos, é um terreno pantanoso e perigoso, especialmente quando são símbolos de outros. Com frequência, esses outros, não pensam como nós, e portanto devemos respeitar os seus credos. É hora de começarmos a aprender alguma coisa com estes acontecimentos e perceber que nós - ocidentais - talvez também tenhamos o nosso quinhão de responsabilidade.

Saudações e feliz 2015 para todos os leitores!