quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Uma palavra aos «defensores do Porto e do Norte»

A propósito da supressão/suspensão de 4 rotas europeias da TAP a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro, a saber Barcelona, Roma, Milão e Bruxelas, vieram os propalados «defensores do Porto» fazer saber da sua insatisfação e indignação. Até aqui tudo bem, mas temos ouvido argumentos sem sentido que importa desconstruir.

  • Não faz sentido chamar TAP Portugal, mas sim TAP Lisboa - é engraçado, que há anos que a TAP não tem qualquer destino a partir de Faro que não Lisboa, o mesmo se passando em Ponta Delgada e, quase o mesmo, na Madeira, mesmo quando até há 3 anos o tráfego anual de passageiros em Faro ainda suplantava o do Porto. Enquanto estiver em Lisboa e Porto pode usar o nome de Portugal, mas se sair do Porto já deixa de representar "o resto" de Portugal. Sem mais comentários;
  • As rotas suprimidas tiveram uma ocupação de 90% no ano de 2015 - argumento que só pode convencer quem não perceba o mínimo do negócio. Afinal as companhias fazem sempre por encher os aviões ao máximo, e, se as rotas não são lucrativas, descem-se os preços e os aviões enchem na mesma, pois mantendo-se os prejuízos, estes vêm-se atenuados;
  • A rota Lisboa-Vigo é um insulto e uma drenagem de passageiros galegos para Lisboa. A maioria dos galegos vai ao Porto apanhar low-costs, doutro modo voaria na Iberia para Madrid (mais rápido do que o comboio ou automóvel até ao Porto) para apanhar longo-curso, com muito mais opções a preços muito mais competitivos e será nesta disputa com Madrid que a TAP, e bem, quer entrar;
  • Querem acabar com o longo curso a partir do Porto - este que concedo ser absolutamente verdadeiro, não posso deixar de criticar. É assim tão dramático levar mais 1h30m com uma ligação a Lisboa para essas 4 rotas de longo-curso, quando, em contrapartida, se reduzirá o tempo total de viagem para muitos mais destinos da TAP graças à ponte-aérea com voos a toda a hora para a capital? Afinal se compararmos com Açorianos, Madeirenses, Algarvios - com poucas ligações ao propalado hub da capital - e sobretudo a Alentejanos, Beirões e Transmontanos - estes últimos sem voos - talvez o Porto seja, afinal, o segundo aeroporto com melhor serviço por parte da TAP, o que bate certo se pensarmos que é a segunda maior urbe do país, ao nível demográfico e económico.

Resta dizer algo que é um facto mais que sabido - só há 2 companhias aéreas europeias (das de bandeira) com 2 hubs, a saber, a Lufthansa (com Frankfurt e Munique) e a British Airways (com Londres-Heathrow e Londres-Gatwick), e se a dimensão económica e demográfica de Portugal não é a da Alemanha nem a do Reino Unido, também o Porto não tem a dimensão de Munique.

Cidades como Milão, Liverpool, Manchester, Berlim, Lyon, Marselha, Nice, Toulouse, Barcelona são exemplos de cidades sem serviço de longo-curso por parte da sua companhia de bandeira, algumas das quais sem qualquer outro voo que não o de ligação ao respetivo hub nacional. São as regras do mercado liberalizado. As companhias europeias têm sobrevivido à liberalização do mercado através dos seus hubs, e tudo o que os potencie é fundamental.

Em suma, as supressões anunciadas são uma boa notícia para o país e para o norte? Não. Vale a pena criar uma guerra com Lisboa e voltar com o provincianismo bacoco e sentimento de inferioridade que justifica o revanchismo anti-lisboeta? Também não, especialmente quando a ponte-aérea Porto-Lisboa virá inegavelmente aproximar todos os destinos da TAP do Porto e o Porto de todos os destinos da TAP.

Além disso, se há tanto mercado, pujança exportadora e capacidade empresarial, porque não criar-se uma companhia aérea portuense que sirva a sociedade, os negócios, o turismo e as exportações de toda a região Norte melhor do que a TAP faz hoje? Fica a ideia.