sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Geopolítica Peninsular

O PROBLEMA:

O aumento de tensão e dos atritos entre Madrid e a Catalunha tem sido cada vez mais evidente nos últimos anos. A possibilidade da Comunidade Autónoma espanhola se tornar independente é hoje mais plausível que nunca e Portugal não pode, não deve e não terá nada a ganhar em colocar-se à margem desta discussão. A geopolítica peninsular e as repercussões económicas que isto possa ter são demasiado importantes. Devemos ser moderados e não meter a mão em seara alheia, mas não podemos ser neutrais.

Procuremos não ser românticos nesta análise e ser racionais ao ponto de percebermos com o que temos mais a ganhar. A possível independência da Catalunha irá enfraquecer significativamente a Espanha, quer económica, quer politicamente, o que reforçará o peso relativo de Portugal no contexto peninsular. Este enfraquecimento poderá ser ainda mais crítico se o precedente aberto na Catalunha for aproveitado por outras regiões para reivindicarem a sua independência (e.g. País-Basco). Ninguém sabe exatamente como é que esta disputa irá acabar, se acabar, claro, mas Portugal, enquanto nação soberana deve discutir internamente este assunto e preparar-se para essa eventualidade.

A POSIÇÃO PORTUGUESA:

Não parece razoável optar pela cumplicidade para com a causa Catalã. A nossa relação económica e política com Espanha é demasiado importante e necessária para que possamos descurar dela. Lembro que, para além de mais de 20% das nossas exportações terem Espanha como destino, o território espanhol é a nossa única via de comunicação terrestre para com a Europa - para onde parte larga maioria das nossas exportações por via rodoviária e, no futuro, se os nossos políticos abrirem os olhos, também por via ferroviária.

Se a Catalunha não se tornar independente, teremos estado do lado certo da história. Se, pelo contrário, conseguir a independência, Portugal estaria em condições de beneficiar, em primeira mão, da quebra dos fortíssimos laços económicos entre Espanha e a Catalunha que previsivelmente sofrerão um forte abalo, e ficaria com uma relação reforçada com aquele que continuaria a ser o maior país ibérico, dos pontos de vista geográfico, demográfico e económico.

ASSUNTOS PENDENTES:

Fui há oito anos atrás que o Primeiro-Ministro português proclamou ter três prioridades: «Espanha, Espanha e Espanha». Palavras vãs! Já antes se tinham assinado acordos com Espanha para TGV, várias linhas e todas a pensar em passageiros. O seu governo manteve algumas, os espanhóis acreditaram e estão a construir a linha Madrid-Badajoz (que não tem qualquer sentido sem ligação a Lisboa).

Mais cedo que tarde notarão que aqui não fizemos a ligação Lisboa-Caia e perceberão que não podem confiar em Portugal. Mais cedo que tarde a nossa economia vai precisar (ainda mais) duma ligação à Europa em bitola europeia para mercadorias (linha Aveiro-Salamanca). Mais cedo que tarde os espanhóis vão expressar o seu desinteresse em ligar a fronteira portuguesa a Valladolid (donde haverá ligação a França). Se forem simpáticos deixam-nos ir construir os 230km de linha do seu lado da fronteira, se não forem, teremos de exportar do norte de Portugal para a Europa via Lisboa e Madrid ou por via rodoviária o que tolherá definitivamente a competitividade do nosso setor exportador, com fortíssima presença no litoral centro e norte de Portugal.

Os espanhóis não são nenhuns santos, mas nós portugueses temos que perceber que dependemos muito mais deles do que eles de nós. Isto não significa rebaixar-nos, mas sim sermos firmes, ponderados, ativos e sobretudo, sermos um parceiro previsível e fiável.

Isto, para não falar das disputas de Olivença e das Ilhas Selvagens. Tanta diplomacia e amizade e não se resolvem estes assuntos!? Fica a ideia que os nossos políticos só sabem fazer de "papel de embrulho" sendo iincapazes de fazer escolhas e tomar posições em defesa da República.