Os portugueses são reconhecidamente simpáticos, abertos, hospitaleiros e muito amigos do seu amigo. Contudo, o famoso «chico-espertismo» - forma simpática de classificar corruptos e oportunistas - aí está. Como é que somos tão boas pessoas e há tantos chicos-espertos!? Somos levados a concluir que estes dois conjuntos se intersectam, e, provavelmente, muito mais do que seria de esperar à primeira vista.
Todos queremos o melhor para nós mesmos, os nossos familiares, amigos e conhecidos. "Todos" fazemos tudo o que está ao nosso alcance para os (e nos) ajudar e beneficiar, independentemente do "resto". Ora o resto, são outros cidadãos.
Alguns exemplos clássicos daquilo que estou a falar:
- Fuga ao fisco das famílias e das empresas;
- Contratar familiares e amigos para empresas nossas (independentemente de serem ou não os melhores candidatos);
- Contratar serviços a empresas "amigas", nomeadamente na esfera do Estado (contribuindo para a perversão do sistema);
- Ser-se desleixado no que diz respeito às despesas do Estado ou da própria empresa («o Estado paga!» e depois ninguém sabe porque temos os impostos que temos, ou, «É a empresa paga...» e depois são despedidos e não sabem porquê);
- Passar à frente numa fila (nas Finanças ou na estrada);
- Favorecer (ou procurar ser favorecido) de qualquer outro modo amigos ou familiares sem uma justificação outra que não a emocional.
O programa e-fatura posto em marcha em 2013 para combater fugas ao fisco em certas e determinadas atividades, mais propícias a esta vigarice merece um elogio, só é triste ser necessário. Estima-se que mais de 20% da economia seja não taxada. Se isto for efetivamente verdade e conseguirmos acabar com isto, teremos um estrondoso superavit das contas públicas nacionais e poderemos baixar os elevadíssimos impostos que temos. Vamos acabar com isto e pedir faturas. Todos temos que pagar, não podem ser só alguns!
Todos falamos muito destas "pequenas" fugas à legalidade, mas (quase) todos as praticamos. Vamos ter vergonha na cara e deixar de criticar os governantes por lesarem o Estado em milhões se tivermos comportamentos idênticos. Segundo estimativas recentes falamos de mais de 12 mil milhões de euros perdidos em coleta fiscal, o que seria suficiente para construir 4 novos aeroportos em Lisboa (com 4 pistas) todos os anos.
Vamos perceber que ao beneficiarmos 1 pessoa, estamos a prejudicar milhões e a promover um sistema do qual, invariavelmente nos queixamos. Ajudar um amigo ou familiar nestas circunstâncias não é ser simpático, é ser vigarista...
Denunciem-se as PPP altamente lesivas para o Estado, prendendo os responsáveis e combata-se a evasão fiscal a sério e temos os problemas financeiros resolvidos por muitos anos! A revolução começa dentro de cada um de nós. Eu acredito.
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