terça-feira, 23 de abril de 2013

Ideias Subversivas: Como Errar Com Os Erros dos Outros

Os artigos científicos/económicos (vulgo papers), assim que publicados costumam ser assumidos como... “verdadeiros”. Muitas das vezes sem qualquer crítica são levados a um trono falso e a prazo. São transformados em working papers a partir dos quais se desenvolvem mais papers. E o que acontece quando há falta de visão crítica, nem que seja sobre os papers de autores mais respeitados? Ocorrem mais erros, que são desculpados pelos erros dos anteriores.

Isto para chegar a um ponto fundamental, isto é, ao cúmulo de todos os erros em papers. Falo do artigo que serviu de base a toda (ou quase toda) a razão para a austeridade na Europa e, em particular, em Portugal: “Growth in Time of Debt” de Rogoff e Reinhart, 2010. Vitor Gaspar usou este paper como referência para aplicar a austeridade em Portugal. Resumidamente, o artigo conclui que economias de nações com dívidas públicas superiores a 90% apresentam um decréscimo de 0.1% do seu PIB anual, enquanto as outras (com dívidas inferiores) apresentam em média entre 3-4%.

Ora, todas essas conclusões foram revistas por um aluno de 28 anos, Herndon, que decidiu rever os resultados. Afinal, países com dívidas públicas acima desse limiar apresentam em média um crescimento positivo de 2.2% (!). Os autores do famoso working paper, já com mais de 400 citações de outros papers, uma delas de Vitor Gaspar, assumiram que tudo se deveu a um erro de Excel. Acreditar nesse erro imaturo cabe a cada um.

Os autores de um paper que influenciou toda a economia moderna, com particular influência em Portugal, admitiram o erro. E eu pergunto agora: os defensores de toda esta política, que tinham esse famoso paper como fundamento, não admitem o erro? Vão continuar a errar sobre erros de outros?

Dinis Lopes

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