terça-feira, 2 de abril de 2013

Ideias Subversivas: A Justiça e os Burros

Em algum momento da nossa vida vamos ter que recorrer à justiça... Sim, para resolver algum problema relacionado com imóveis, heranças, acusações no trabalho ou na simples rua, ou qualquer outro litígio. Tudo seria mais fácil se recorrer à justiça não fosse pior do que deixá-la arrastar perante o nosso sedentarismo. Ora, eu tive que recorrer a ela e fui obrigado a mexer-me.
Na minha primeira experiência com a justiça portuguesa deixo aqui as minhas breves conclusões, fazendo notar que eu estou provavelmente numa  área de trabalho que se encontra exactamente no extremo oposto do direito:
  • As leis são contraditórias. Num mesmo artigo, eu próprio, sem a ajuda de um advogado, consegui encontrar frases que se contradiziam a si próprias. Frases muitas vezes dúbias levaram-me a questionar a inteligência dos advogados que as escreveram: se o fazem de propósito para uma frase poder ser interpretada de duas formas diferentes, ou se temos mesmo o caso de advogados com péssima qualidade na sua redacção.
  • As leis são mal escritas. Num concurso de “palavras-caras” os advogados ganhariam. O objectivo não é tornar as leis explícitas. O objectivo principal é conseguir torná-las de difícil leitura para que nem todas as pessoas as consigam entender. E assim que passamos esse limiar de percepção e entramos na mente dos advogados deparamo-nos com atentados à lingua portuguesa.
  • Mixórdia de leis novas-antigas. Com mudanças constantes no governo e a “vontade” de reformar constantemente, as leis estão em constante mudança. Não é possível para um simples cidadão manter-se a par das leis que vão sendo publicadas. E impressionantemente, nem o advogado que me veio a representar, estava a par delas (ele não é um caso único).
  • Igualdade na justiça não existe. Tive que consultar um advogado para avançar com o processo. Infelizmente não existem advogados para os cidadãos que têm menos posses (menos = ordenados inferiores à classe média-alta). Estes são deixados à sorte e numa última instância nas mãos de um advogado que apenas os vai conhecer no momento da decisão.
Eu sempre tentei dar o benefício da dúvida à justiça portuguesa, apesar das críticas constantes com que tem sido bombardeada. Infelizmente, percebo agora porque os portugueses preferem muitas das vezes deixar arrastar, ou mesmo resolver pelas suas próprias mãos, os problemas judiciais. Acredito que existam advogados de qualidade, mas talvez estes não estejam a trabalhar no sítio que deveriam.

Dinis Lopes

3 comentários:

  1. Um pequeno reparo, pelo bem da correccao: nao sao os advogados que fazem as leis.


    Saudacoes,

    ResponderEliminar
  2. É certo que não são os advogados que têm a incumbência de fazer as leis, mas sabemos bem que a maior parte daqueles que as redigem são advogados!

    ResponderEliminar
  3. Olá a todos,

    Sou estudante de Direito e não resisti a mandar uma posta de pescada.

    O Rover tem razão, não são os advogados a escrever as leis. Normalmente, será a Assembleia da República ou o Governo. Por outro lado, Rover, o Faro tem razão: hoje em dia, muitas das leis são redigidas por advogados.

    Gosto deste post. É verdade: a justiça está entregue aos bichos. Preparam-se os alunos para serem tão trapaceiros como os advogados que já existem, as pessoas com menos dinheiro bem podem desistir de recorrer à justiça ou de ganhar um processo, as leis são contraditórias, as palavras caras não são para pessoas normais... Conclusão: só os ricos é que se safam no meio de tudo isto. Precisamos de um "reset". E garanto-te: se a justiça fosse remodelada, muita coisa melhoraria.

    No entanto, há uma coisa que disseste que tenho de chamar a atenção. As leis mudam muito, é verdade, e não devia ser assim, pois significa que andam a ser mudadas de acordo com o interesse de alguém (interesse esse que não é o nosso, povo). No entanto, tens de perceber que muitas das mudanças ou mesmo simples interpretações servem para manter as leis actualizadas. Há leis que resistem mas que não podem ser aplicadas à letra, porque a conjuntura em que vivemos não é igual àquela na qual a lei foi criada. Enfim, mas isso são coisas mais técnicas, que é normal que uma pessoa fora do ramo não compreenda e se indigne (com razão, no entanto).

    Resta saber... é melhor resolvermos os problemas pelas nossas mãos ou devemos lutar por um sistema jurídico melhor? Eu não me conformo.

    Ass: Mini Rover

    ResponderEliminar