Gostaria,
antes de mais, de dizer que este é o meu primeiro texto neste blog. Apesar do dito blog ter sido criado num espírito de
seriedade e bom gosto, eu confesso que irei dar sempre mais importância ao
segundo. Penso que os meus textos se irão desviar um pouco do estilo e
temáticas dos outros autores. Serão mais relaxados, abstractos e filosóficos. Evitarei
entrar em discussões político-económicas.
Esta rubrica
será a primeira de uma série com o mesmo título. Não me vou comprometer com
prazos nem com um número de textos porque, sinceramente, seria muito provável
que não cumprisse as metas estipuladas. Os textos terão como tema várias
facetas de algo a que chamei Espírito
Português, algo que é composto por um
conjunto de características, boas e más, que, a meu ver, a maioria dos
portugueses possui e acabam, de alguma forma, por nos definir. Para começar,
decidi explorar uma característica positiva de que me orgulho muito. O tema
deste texto é então a simpatia, solidariedade e amabilidade do povo português.
Durante os
meus anos de vida (eu sei, não são assim muitos) e viagens por vários países da
Europa, nunca encontrei gente tão simpática, afável e solidária como os
portugueses. Não que me sentisse mal tratado ou incomodado nos outros países
(bem, os alemães são mesmo antipáticos!). No entanto, faltava algo… senti que
faltava o calor e a alegria das pessoas que são simpáticas por gosto, porque
isso é algo que lhes dá prazer, e não porque é isso que se espera delas ou
porque faz parte do trabalho que desempenham na sociedade.
Vou vos dar apenas
dois exemplos da manifestação desta faceta do Espírito Português.
Primeiro
exemplo. Há alguns anos atrás, fui acampar com uns amigos a Belver, uma bonita
aldeia na margem direita do rio Tejo, a 5 quilómetros de Portalegre. Estávamos
em Fevereiro e, quando saímos do comboio, chovia copiosamente. A estação fica
junto à margem do rio e a aldeia no cimo de um monte vizinho. Nada havia a
fazer senão subir até à aldeia a pé e com os carregos às costas sob a impiedosa
chuva.
A dois terços
do caminho, uma velhotinha típica portuguesa vem à janela da sua casa à beira
da estrada e diz: “Ai filhos! Vocês estão ensopados. Entrem e abriguem-se da
chuva.” Agradecidos, apressamo-nos a entrar, molhando o chão todo à pobre
senhora. Quando demos por ela, já a senhora andava a arranjar pão e chouriças
para um grupo de rapazes que nunca tinha visto. Não nos conhecia de lado
nenhum, não sabia de onde vínhamos ou ao que íamos e, mesmo assim, convidou-nos
a entrar na sua casa e tratou-nos como filhos ou netos que tinham chegado para
lanchar.
Segundo
exemplo. Ainda no outro dia, estava a ver a série de ficção histórica de
produção nacional intitulada “Depois do Adeus”. Retrata Lisboa em 1975, uma
altura conturbada após a revolução de 25 de Abril. A série centra-se nos
fortúnios e infortúnios de uma família de retornados de Angola. São estrangeiros
no seu próprio país e tudo o que juntaram ao longo de uma vida, incluindo as
próprias poupanças, ficaram em Angola.
Neste episódio
em particular, o filho mais novo faz anos mas sente que não há razões para
celebrar. Os pais, querendo animar o filho, organizam uma festa surpresa. Como
pouco conseguiram juntar desde que voltaram, pedem ajuda aos amigos e
familiares. A senhora do café faz o bolo de anos e disponibiliza a sala do
café, um colega de trabalho do pai dá uma bicicleta usada que o pai repara, um
outro amigo dá bilhetes para a Feira Popular para toda família, a vizinha faz
umas sandes,… No final, o rapaz tem uma festa de anos melhor do que poderia
sonhar.
Ao ver isto,
eu penso: “Isto é mesmo à portuguesa! Todos dão o pouco que podem com uma enorme
boa vontade e sem segundas intenções. E o resultado é maior, mais bonito e com
mais significado do que qualquer um esperaria.” Eu sei que é um exemplo
fictício, mas tenho a certeza que a maior parte de nós já teve uma experiência
semelhante.
Esta
faceta do que eu apelidei de Espírito
Português: esta simpatia, bondade, boa vontade e especialmente amizade não
só para com os nossos, mas também para com
completos estranhos; e esta capacidade de nos juntarmos, de bom grado darmos,
todos um pouco e conseguirmos criar algo impressionante que por vezes nos
espanta até a nós. Tudo isto é algo que me dá um orgulho enorme de ser
Português, um orgulho difícil de expressar por palavras.
Até à próxima,
TM
PS: o link para o episódio que
referi: http://www.rtp.pt/programa/tv/p28774/e7
Quando o GT publicou o seu texto "Mostrar Portugal lá fora", eu já tinha escrito este texto. Por um feliz acaso, acho que esta rubrica se liga bastante bem à temática do segundo vídeo.
ResponderEliminarE peço desculpa por ter ficado tão grande. Para a próxima tentarei ser mais conciso.
É como diz a letra do famoso fado «Casa Portuguesa»: «A alegria da pobreza, está nesta grande riqueza de dar e ficar contente!».
ResponderEliminarIsto é ser Português. ;)