Eu sei que
disse que em princípio não escreveria textos de cariz político-económico. E, se
formos preciosistas, este texto não o é. É sim um texto de desapontamento,
desilusão e frustração.
Vi hoje, no
telejornal, que o português médio consome 60 Kg de peixe por ano, o que
corresponde a três vezes a média europeia. É um bom hábito alimentar e,
obviamente, não foi isto que me desiludiu…
O que me
deixou incrédulo foi saber que Portugal importa mais de dois terços do peixe
que consome. Sim, Portugal, o país europeu com a terceira maior Zona Económica
Exclusiva, importa mais de dois terços do peixe que come! Não havemos de estar
mal…
É verdade que,
há mais de 40 anos, o peixe que era pescado se tornou insuficiente para
sustentar o consumo mundial. Mas pelos vistos, segundo a reportagem, Portugal tem
um enorme potencial e condições ímpares para a prática da aquacultura. Pois é... No entanto, a produção portuguesa desta actividade representa menos de 3% do
peixe consumido no nosso país.
Situações como
esta são exemplos concretos do que se faz mal por cá. São exemplos de
desperdício e subaproveitamento do que é nosso. São situações que nos
desequilibram em termos económicos, comprando algo que podíamos muito bem
produzir nós próprios e que muito provavelmente poderíamos ainda exportar.
Portugal é
agora como um barco. Um barco que está a meter água por um buraco no casco. E a
tripulação – o Governo – está convencida que a solução para não ir ao fundo é
deitar borda fora tudo o que pesa – tudo o que os portugueses lutaram por ter
como, por exemplo, o emprego estável, serviço nacional de saúde, educação, cultura,
entre outros – para tornar o barco mais leve e não entrar tanta água – a dívida.
Mas o pior é que, para além de tudo isto, está a deitar fora as ferramentas que
podia usar para reparar o buraco e salvar o barco. Essas ferramentas são os
portugueses, nomeadamente os jovens, que sempre levaram o seu país para a
frente a custo do seu sangue, suor e lágrimas; e é também o território do nosso
país, um lugar abençoado pelos deuses que nos dá tudo o que poderíamos pedir
com a maior das gentilezas.
É pena é nenhum
membro da tripulação se lembrar do lastro. Esses interesses corruptos que
sempre operaram por detrás das cortinas dos sucessivos governos. Esses que têm
muito dinheiro e que cada vez têm mais. Esses que têm muito poder e que cada
vez têm mais. Esses que têm muitas regalias e que cada vez têm mais. Esses que são
difíceis de erradicar, como as baratas, e cada vez o são mais. Esses que têm
muito e que cada vez têm mais.
Se não usarmos
as nossas ferramentas para tapar o buraco e nos livrarmos do lastro, Portugal
vai continuar a meter água. Por muitas coisas que deitemos borda fora, por
muita austeridade que apliquemos.
Assim, como
estamos, vamos ao fundo…
Até à próxima,
TM
PS: hoje à noite, após o jornal da SIC, irá passar uma reportagem que se debruçará sobre a questão que usei para abrir este texto.
PPS: eu escrevo segundo o antigo acordo ortográfico.
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