terça-feira, 12 de março de 2013

Mar Português

Eu sei que disse que em princípio não escreveria textos de cariz político-económico. E, se formos preciosistas, este texto não o é. É sim um texto de desapontamento, desilusão e frustração.

Vi hoje, no telejornal, que o português médio consome 60 Kg de peixe por ano, o que corresponde a três vezes a média europeia. É um bom hábito alimentar e, obviamente, não foi isto que me desiludiu…

O que me deixou incrédulo foi saber que Portugal importa mais de dois terços do peixe que consome. Sim, Portugal, o país europeu com a terceira maior Zona Económica Exclusiva, importa mais de dois terços do peixe que come! Não havemos de estar mal…

É verdade que, há mais de 40 anos, o peixe que era pescado se tornou insuficiente para sustentar o consumo mundial. Mas pelos vistos, segundo a reportagem, Portugal tem um enorme potencial e condições ímpares para a prática da aquacultura. Pois é... No entanto, a produção portuguesa desta actividade representa menos de 3% do peixe consumido no nosso país.

Situações como esta são exemplos concretos do que se faz mal por cá. São exemplos de desperdício e subaproveitamento do que é nosso. São situações que nos desequilibram em termos económicos, comprando algo que podíamos muito bem produzir nós próprios e que muito provavelmente poderíamos ainda exportar.

Portugal é agora como um barco. Um barco que está a meter água por um buraco no casco. E a tripulação – o Governo – está convencida que a solução para não ir ao fundo é deitar borda fora tudo o que pesa – tudo o que os portugueses lutaram por ter como, por exemplo, o emprego estável, serviço nacional de saúde, educação, cultura, entre outros – para tornar o barco mais leve e não entrar tanta água – a dívida. Mas o pior é que, para além de tudo isto, está a deitar fora as ferramentas que podia usar para reparar o buraco e salvar o barco. Essas ferramentas são os portugueses, nomeadamente os jovens, que sempre levaram o seu país para a frente a custo do seu sangue, suor e lágrimas; e é também o território do nosso país, um lugar abençoado pelos deuses que nos dá tudo o que poderíamos pedir com a maior das gentilezas.

É pena é nenhum membro da tripulação se lembrar do lastro. Esses interesses corruptos que sempre operaram por detrás das cortinas dos sucessivos governos. Esses que têm muito dinheiro e que cada vez têm mais. Esses que têm muito poder e que cada vez têm mais. Esses que têm muitas regalias e que cada vez têm mais. Esses que são difíceis de erradicar, como as baratas, e cada vez o são mais. Esses que têm muito e que cada vez têm mais.

Se não usarmos as nossas ferramentas para tapar o buraco e nos livrarmos do lastro, Portugal vai continuar a meter água. Por muitas coisas que deitemos borda fora, por muita austeridade que apliquemos.

Assim, como estamos, vamos ao fundo…

Até à próxima,
TM

PS: hoje à noite, após o jornal da SIC, irá passar uma reportagem que se debruçará sobre a questão que usei para abrir este texto.

PPS: eu escrevo segundo o antigo acordo ortográfico.

Sem comentários:

Enviar um comentário