quinta-feira, 21 de março de 2013

Gap Year

Lia, com algum agrado confesso, no domingo de manhã no Público, sobre a intenção por parte de várias entidades nacionais de divulgar o conceito, e mais importante o incentivo à prática, de Gap Year. O termo, que em Português "Ano Sabático", consiste em interromper o normal percurso académico ou profissional por vários meses a um ano para viajar, fazer voluntariado, trabalhar no estrangeiro, etc.. Não sendo desconhecido em Portugal, é prática comum nos países anglo-saxónicos: lembro-me de ouvir pela primeira vez sobre o assunto nas aulas de Inglês. Contudo este pequeno estimulo não foi suficiente para mim ou para os meus colegas de então o termos posto em prática.

O artigo que lia no jornal online, dizia eu, referia-se em particular à aplicação desta prática entre o final do ensino secundário e o início do ensino superior. Segundo o texto, cada vez mais jovens em Portugal, sendo ainda uma ínfima minoria, atrasam em um ano a entrada na Universidade para, na grande maioria, viajar e/ou fazer voluntariado. Perante isto, existe vontade de solicitar ao Governo a criação de uma campanha de promoção do conceito junto dos alunos do ensino secundário. Em causa está a ideia de que um ano de viagem, de trabalho ou voluntariado no estrangeiro (ou não, apenas num ambiente diferente) contribuem em muito para o desenvolvimento pessoal dos jovens. Acredita-se que voltam mais maduros, mais seguros, mais abertos, mais preparados para o futuro.

No entanto, lia-se também no mesmo artigo, há que encarar o conceito com cautela: o que para uns pode ser uma experiência única, para outros pode ser um pesadelo. Muitos jovens com certeza não terão o mínimo de maturidade necessária aos 17-18 anos para partir sozinhos para longe, ou para realizar trabalho voluntário num ambiente tão diferente do seu e por tanto tempo. Mais ainda, nem todos terão as possibilidades financeiras não só para ir como para dispor de um bom plano de contingência para, estando longe, o caso de algo correr mal: por ventura partir não significará necessariamente um grande investimento inicial, mas garantir um nível de apoio e segurança enquanto decorre a viagem poderá acarretar um pouco mais.

Para apoiar e aconselhar os jovens (e pais) interessados no tema, um grupo de recém experimentados na prática criou a Associação Gap Year Portugal. Para além de ideias, partilha de experiências em artigos ou no forum, está ainda disponível no site uma lista de contactos de portugueses no estrangeiro que, como dizem no site, "com jeitinho" podem oferecer um sofá na sua casa aos viajantes de passagem.
A existir uma campanha, eu propunha que se fizesse em parceria com instituições para o voluntariado (em solo nacional ou internacional). Com isto o potencial interessado, não só juntaria à experiência uma importantíssima componente solidária, como também teria um melhor acompanhamento organizacional e mesmo motivacional antes e durante o seu "Ano Sabático".

Apesar de não ser exactamente o mesmo, encontro muitas semelhanças entre algumas facetas do conceito de Gap Year e o já tão popular programa de Erasmus. Neste, o aluno muda-se para um país Europeu (outros programas há em que o país de destino fica noutro continente) por um período até um ano para estudar. Talvez o choque cultural seja pequeno quando comparado com uma viagem a destinos mais longínquos mas a exposição a outras línguas, sociedades, realidades de trabalho e ensino são, na minha opinião, já uma gigantesca mais valia pessoal, comparável ao que se escreve sobre o Gap Year. Nestas experiências, o que se perde em tempo (e dor-de-cabeça) de logística e organização, em ansiedade e saudade ganha-se não só em autonomia e maturidade mas também em cultura e abertura ao mundo. Isto para não falar da realização pessoal, das amizades, dos momentos únicos de troca cultural, do prazer em mostrar ao mundo o que somos (lá estou a voltar ao tema do meu post anterior).

Independentemente do âmbito ou destino da viagem, seja para passear, estudar ou trabalhar, o importante é levar a motivação certa. Levar a mente aberta. Absorver tudo, experimentar, conhecer e dar a conhecer. Se assim se fizer é garantido que o que se traz é várias vezes maior que aquilo com que se partiu.
Acredito que nós, sociedade, só temos a ganhar com a generalização de experiências e programas como o Gap Year ou o Erasmus. Como sempre se diz, os jovens de hoje são os adultos de amanhã, e o amanhã cada vez mais precisa de adultos maduros, sensatos e abertos ao mundo.

Deixo aqui o artigo a que me refiro.

GT

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